DEFASAGEM TECNOLÓGICA – PARTE II: Uma questão de plataforma

Por Fernando Raphael Ferro

         No texto anterior comentei as reclamações existentes, em geral por parte da imprensa, por conta da alegada defasagem tecnológica de alguns motores em relação a outros, que no final das contas, com recursos mais simples, conseguem rendimento semelhante. Hoje meu foco é a questão da plataformas, sobretudo pelo comentário feito pelo jornalista Fernando Calmon de que o Onix da Chevrolet talvez não seja tão novo assim, utilizando a plataforma do antigo Corsa.
       Na minha modesta opinião, como usuário de carros diversos, este tipo de informação pouco acrescenta, uma vez que a plataforma da qual o carro é feito interfere menos no resultado que o acerto do conjunto. Exemplo: o Fiat Uno, lançado em 1984 aqui no Brasil, não era igual ao europeu: por lá ele utilizava um eixo de torção na traseira, com molas helicoidais, enquanto no Brasil utilizava o mesmo conjunto do Fiat 147, mais robusto. O Palio, de 1996, adotou o mesmo conjunto do Uno europeu de 1982. Por sua vez, o Novo Uno, elogiado por diversos veículos da imprensa, teve sua “plataforma” construída a partir da base do Palio, com um melhor acerto. Por fim, o Novo Palio, utiliza como referência a plataforma de quem? Do Novo Uno. Ou seja, no final das contas, todos estes carros são uma evolução, e não uma revolução, em relação ao 147.
        Na verdade, é isto que torna a Fiat tão boa naquilo que faz: ela não reinventa a roda a cada lançamento, apenas aperfeiçoando o produto seguinte com base nas soluções amplamente testadas no anterior. E, de certa forma, isto é o mesmo que a GM, a Ford e a VW fazem. No caso da VW, o recém avaliado pelo Bestcars Gol 1.0 Bluemotion, teve suas entranhas reveladas, que mostravam que o eixo de torção utilizado na traseira era exatamente o mesmo dos primeiros Gol BX lançados no Brasil.
         O Corsa da primeira geração, lançado por aqui em 1994, praticamente ao mesmo tempo que o europeu de II geração, deu origem ao Celta, Prisma e Agile, todos compartilhando a mesma estrutura básica. De fato, o Agile se mostrou um carro inferior em comportamento e qualidades ao segmento ao qual ele se destinou, mas de modo algum pode-se dizer que ele foi inferior aos seus concorrentes em todos os aspectos. Para isso, basta lembrar que o Sandero possui discos de freios dianteiros sólidos, mesmo sendo um carro significativamente mais pesado e caro que o Celta, que também recorre a este recurso.
        Se o Onix for baseado na mesma base mecânica do Celta, mas tiver aperfeiçoamentos como subchassis na dianteira e uma suspensão bem acertada, com uma estrutura suficientemente reforçada para atender as normas de segurança vigentes, por que razão ele deveria ser desmerecido por isso? Vou finalizar lembrando que o Bravo, que é um carro extremamente agradável de dirigir, foi desenvolvido compartilhando os componentes do Stilo, aos quais acrescentou os freios a disco nas quatro rodas e avanços em rigidez estrutural. Mas na base, são carros com a mesma “plataforma”. Além disso, ainda na Fiat, Idea, Punto, Linea utilizam a mesma plataforma, que por sua vez é diferente da européia, porque baseada na do Palio de primeira geração. E sobre este carro, a história já foi contada.

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